Nova Orleans tem o efeito de ilha de calor urbano mais forte dos EUA, com temperaturas quase 5°C mais altas do que as áreas naturais próximas. A cidade perdeu mais de 200 mil árvores com o furacão Katrina, diminuindo a área sombreada para apenas 18,5%.
A ONG Sustaining Our Urban Landscape (SOUL) fez uma parceria com arquitetos paisagistas da Spackman Mossop Michaels (SMM) para criar um plano de reflorestamento acessível e focado na equidade. O plano fornece um roteiro para alcançar a marca de 24% de área coberta por árvores até 2040. Mais importante, o plano também busca igualar a área sombreada por árvores, de modo que pelo menos 10% de todos os 72 bairros estejam cobertos. Atualmente, mais da metade dos bairros está abaixo da marca de 10%.
Wes Michaels, sócio fundador da SMM, explicou que algumas comunidades da cidade são feitas quase inteiramente de concreto e asfalto, e têm coberturas de apenas 1%, enquanto outras, como o famoso Garden District, têm quase 30%.
Isso causa uma distribuição desigual dos riscos do calor. “Com o furacão Ida, a principal causa de morte não foram as inundações, mas o calor. A tempestade derrubou a eletricidade, então as pessoas ficaram em suas casas sem ar condicionado”, explicou Emily Bullock, ASLA, diretora da SMM.
O Plano de Reflorestamento de Nova Orleans oferece um modelo novo e mais equitativo para reduzir o calor extremo - o assassino número um do clima - e as inundações, ao mesmo tempo em que reduz o uso de energia.
“Os planos convencionais de reflorestamento urbano estão focados em alcançar uma porcentagem de área sombreada por árvores, e muitas vezes há um componente de equidade. Mas esse plano coloca a equidade como prioridade para enquadrar todas as metas”, disse Bullock.
“Os planos que revisamos de outras cidades eram todos iguais, meio clichê. Precisávamos de um plano que reconhecesse os bairros únicos de Nova Orleans”, disse Susannah Burley, diretora executiva da SOUL. “Queríamos encontrar uma empresa local que entendesse o contexto de nossa cidade.”
Burley, mestre em arquitetura paisagística pela Louisiana State University (LSU), liderou o complexo planejamento do reflorestamento nos últimos dois anos.
Com Traci Birch, professora e urbanista da LSU, a SOUL organizou quatro mesas redondas com partes interessadas locais dos setores público, privado e sem fins lucrativos, além de sete reuniões comunitárias.
“Spackman Mossop Michaels foi uma das partes interessadas nessas primeiras conversas. Sabíamos que eles já haviam investido no plano e compreendiam as medidas tomadas”, disse Burley.
A empresa foi então contratada para analisar os complexos dados GIS coletados pelo SOUL, organizar mais reuniões em toda a cidade e desenvolver o plano.
“Os arquitetos paisagistas conhecem os desafios e sabem como se relacionar com os serviços públicos. Ajudamos a promover diálogo com as partes interessadas. Examinamos os regulamentos da cidade e apresentamos recomendações para que esses sistemas funcionem um pouco melhor. O objetivo é tornar o plantio de árvores um processo mais tranquilo e fácil”, disse Bullock.
A experiência da empresa com o envolvimento da comunidade também ajudou a SOUL a estruturar as conversas.
“Nem todos na comunidade estão 100% a favor do plantio de mais árvores. Embora os arquitetos paisagistas sabem que “árvores = bom”, é possível encontrar comunidades onde estão pessoas contra o plantio. Ouvimos questionamentos como: 'e se uma árvore cair na minha casa ou as folhas entupirem minhas calhas? E se as raízes deles quebrarem a minha calçada?'”, disse Michaels.
A pesquisa mostra que as árvores aumentam os valores das propriedades. Mas a SMM não ouviu queixas de que mais árvores pudessem levar à gentrificação ou deslocamento. “As perguntas eram mais sobre ‘quem vai manter as árvores nas calçadas? De onde virão os fundos de manutenção?'”, disse Bullock.
No histórico Garden District, as raízes das árvores podem transformar as calçadas em pequenas colinas irregulares, tornando-as inacessíveis. E em outras partes mais antigas da cidade, as calçadas são muito estreitas, deixando pouco espaço para as árvores. Como a cidade vai encaixar mais árvores?
“Não entramos nesses tipos de questões, que estavam além do escopo. Queremos garantir que não repetiremos os problemas atuais, inclusive com serviços públicos aéreos e subterrâneos. O objetivo é criar uma política de árvores unificada com as partes interessadas, incluindo as concessionárias de energia, água, esgoto. A ideia é criar uma nova política juntos”, explicou Michaels.
O plano descreve detalhadamente os passos que a SOUL, outras organizações e a cidade podem seguir para aumentar a capacidade e aumentar o plantio de árvores a fim de atingir a meta de 2040. Mas antes de ampliar, o plano exige um ano inteiro de envolvimento da comunidade. “Isso ajudará a educar as comunidades sobre os benefícios das árvores e estabelecerá as bases para os próximos programas de plantio”, disse Michaels.
Em cinco bairros diversos e mal atendidos, testes de plantio de árvores serão implementados nos próximos anos. Em alguns desses bairros, plantar mais árvores será bastante simples, pois há áreas verdes abertas disponíveis. Em outros bairros será mais difícil, já que a área sombreada é menor, sendo necessário mais investimento e apoio para quebrar e remover calçadas de concreto.
Segundo Burley, a maior barreira para a implementação do plano é a falta de financiamento. “Em Nova Orleans, o Departamento de Parques e Vias Rodoviárias é extremamente subfinanciado. O plano é uma ferramenta de defesa – mostra o que pode ser feito com mais fundos e como fazer isso acontecer.”
E é por isso que a equipe se concentrou em tornar o plano tão fácil de entender. “A maioria dos planos de reflorestamento que vi careciam do componente humano. Nosso plano é altamente acessível, para que possa ser escolhido por qualquer representante do governo municipal ou associação de bairro.”
Este plano também oferece uma abordagem que outros arquitetos paisagistas podem aplicar. “Planos de reflorestamento são especialidades de arquitetos paisagistas. Esses planos estão na interseção de ecologia, cultura e saúde pública. Não se trata apenas dos números de área sombreada por árvores. Mas como plantar o maior número de árvores em locais onde elas são necessárias e no menor tempo possível, com recursos limitados”, disse Michaels.
Este artigo foi publicado originalmente no The Dirt.
